Cinemas NOS Alvaláxia
Data da Visita: Novembro de 2024
Sobre o Cinema
Localizados no Estádio de Alvalade, renovado para o Euro 2004 e projetado pelo arquiteto Tomás Taveira, os Cinemas NOS Alvaláxia faziam parte de um grande complexo que incluía um centro comercial no seu interior, o Alvaláxia. O cinema ocupa o segundo piso do centro comercial e foi inaugurado em outubro de 2003 sob a denominação Cinemas Millenium Alvaláxia. O projeto foi idealizado e promovido por Paulo Branco, um dos mais importantes produtores cinematográficos em Portugal, como um marco para a indústria cinematográfica nacional.
A proposta era oferecer uma experiência de cinema de luxo, com tecnologia de ponta e uma programação diversificada, incluindo uma sala equipada com o único projetor digital do país à data. A inauguração contou com a presença da atriz francesa Catherine Deneuve, que se tornou a madrinha do espaço. Com 16 salas, o projeto de Paulo Branco visava transformar os Cinemas Millenium numa cadeia de grande impacto no mercado, no entanto enfrentou dificuldades logo nos primeiros anos de operação. Apesar de contar com uma arquitetura vanguardista e salas amplas, o Alvaláxia sofreu com a falta de um planeamento estratégico adequado e problemas financeiros.
As mega salas, projetadas para acomodar grandes estreias, rapidamente mostraram-se insustentáveis. Nos anos de 2004 e 2005, os Cinemas Millenium enfrentaram uma série de problemas financeiros e estruturais, culminando numa situação de insolvência em 2005. As dívidas acumuladas, que superavam os 25 milhões de euros, levaram a empresa à falência. O fluxo de público também foi inconsistente, e a operação mostrou-se nada rentável, revelando a inviabilidade do modelo a que se propunha.
No caso dos Cinemas Millenium Alvaláxia, o elevado preço dos bilhetes, e a localização no topo de um centro comercial ligado a um estádio de futebol, dificultava o tráfego constante de público, especialmente durante a semana. Embora o Alvaláxia combinasse cinema, compras e entretenimento, o desinteresse do público tornou-se evidente, especialmente numa cidade como Lisboa, repleta de opções de lazer e cultura. O centro comercial foi alvo de crítica pela falta de uma oferta comercial mais abrangente, que só foi resolvida anos mais tarde com a entrada do Lidl. A situação financeira crítica levou à demissão de Paulo Branco da administração dos Cinemas Millenium em 2006, após uma série de confrontos com credores, que o acusaram de má gestão e favorecimento de interesses próprios, especialmente ao pagar dívidas de forma desigual.
Com a entrada em processo de insolvência da empresa em 2006, os Cinemas Millenium Alvaláxia perderam gradualmente a sua importância no mercado até ao breve encerramento. O cinema acabou por se tornar um símbolo do fracasso de um modelo de negócios megalómano, especulando-se sobre a viabilidade de outra empresa operar um cinema tão grande e que começara de forma problemática. Para o público, o Alvaláxia em 2005 oferecia poucas atrações além do cinema e alguns restaurantes, com destaque ainda para atividades como bowling e bilhar.
Em 2007, a ZON Lusomundo assumiu a gestão do espaço, mantendo o nome de Millenium até 2009, quando o cinema foi rebatizado para Cinemas ZON Lusomundo Alvaláxia. Nessa altura, o número de salas foi reduzido para 12. Em 2015, com a fusão entre a ZON e a Optimus, o cinema passou a ser denominado Cinemas NOS Alvaláxia, nome que mantém até hoje.
Hoje, os Cinemas NOS Alvaláxia contam com modernas tecnologias, incluindo som Dolby Atmos nas salas, proporcionando uma experiência imersiva para os espectadores. Desde 2024, existe também uma sala dedicada exclusivamente à exibição de cinema português.
O espaço conta com 12 salas de cinema, sendo elas:
- Sala 1: 270 lugares
- Sala 2: 270 lugares
- Sala 3: 344 lugares
- Sala 4: 330 lugares
- Sala 5: 191 lugares
- Sala 6: 197 lugares
- Sala 7: 270 lugares
- Sala 8: 270 lugares
- Sala 9: 50 lugares
- Sala 10: 50 lugares
- Sala 11: 50 lugares
- Sala 12: 50 lugares
A Minha Experiência
Embora o centro comercial Alvaláxia esteja maioritariamente vazio, o cinema estava surpreendentemente cheio, o que seria normal para um sábado à noite em qualquer outro cinema. A afluência de público era concentrada apenas cinema, todas as pessoas a circularem pelo shopping vinham ou iam para o complexo de cinemas.
O acesso aos Cinemas NOS Alvaláxia é feito por uma escadaria localizada de ambos os lados do segundo piso do centro comercial. O elevador disponível só vai até o primeiro piso, que é completamente vazio, com apenas uma loja de artigos para animais aberta. Nesse andar, há umas mesas e uma televisão com as lotações das sessões, é um lounge de espera improvisado, com um ambiente de abandono. Ao chegar ao piso do cinema, o balcão é grande, com várias caixas de atendimento, mas o espaço parece excessivamente amplo e vazio, com uma decoração sóbria e cores escuras, o que cria uma atmosfera sombria e impessoal.
O cinema tem um kiosk que estava avariado durante a visita, e as salas ímpares ficam no corredor direito, enquanto as pares estão no corredor esquerdo. Ambos os corredores têm bancos de metal e casas de banho. O interior do cinema é todo em paredes de cimento exposto, o que contribui para uma sensação fria e impessoal. As casas de banho possuem portas transparentes, o que prejudica a estética do local ficando encaixadas a meio dos corredores tornando o ambiente feio.
Durante a visita, notei a presença de várias caixas de plástico vermelhas, e algumas azuis, espalhadas pelo cinema, deixando-me a perguntar o porquê daqueles objetos estarem ali, a sua função e o porquê de estarem visíveis. As pipocas doces estavam boas, e o atendimento foi bastante agradável. É o único cinema NOS até onde sei que não tem ecrãs digitais nas portas das salas, substituídos por folhas de papel A4 com as informações das sessões, o que me pareceu antiquado.
O Filme e a Sala
A sessão foi realizada na Sala 11, que se localiza no final do corredor das salas ímpares, numa área mais afastada e um pouco difícil de encontrar, especialmente devido a um segundo corredor estreito revestido de azulejos laranja que leva a essa sala, e à 9. Tal localização isolada causou-me estranheza, toda a disposição daquele cinema é invulgar. É no fundo do corredor direito que se encontra o espaço de festas infantis.
A sala em si estava bem equipada, o som era equilibrado, a projeção de boa qualidade e as cadeiras acolchoadas estavam em excelente estado, oferecendo um bom espaço entre as filas e cadeiras. A sala era acolhedora e, sem dúvida, foi o melhor aspecto da experiência no cinema. A sessão estava relativamente cheia, com cerca de 30 pessoas, o que não impediu um episódio desagradável com um casal que estava a falar alto durante o filme dos mais variados assuntos, mesmo depois de ser pedido para se calarem. Esta falta de respeito pela experiência dos outros espectadores prejudicou a imersão no filme e é até à data a pior experiência que tive num cinema. Não sou puritano de condenar falar no cinema, somos expostos a filmes e estando acompanhados é natural comentar algo, mas ao fazê-lo é em volume baixo e não de forma sistemática.
O filme exibido foi a versão comemorativa de 50 anos de "Massacre no Texas", também conhecido como "O Massacre da Serra Elétrica". A história começa com um grupo de amigos que se cruzam com um rapaz estranho, conseguindo escapar dele, mas, ao passarem por uma bomba de gasolina, acabam indo visitar a casa abandonada dos avós de Sally, onde passam a tarde. Divididos em grupos, começam a desaparecer, sendo atacados por um mascarado armado com uma serra elétrica. Gostei do conceito do filme, mas achei-o um pouco arrastado, tendo apesar disso momentos de grande intensidade, como a cena de perseguição da Sally, que foi sufocante e muito bem feita.
Contudo, o tom do filme acabou por se tornar exagerado e, em vez de ser assustador, ficou um pouco 'gritado'. A forma que o filme tinha de mostrar o medo das personagens era só através de gritos, tornando o filme mais barulhento do que verdadeiramente aterrador. Apesar disso, foi interessante ver este clássico do terror no grande ecrã. No entanto, pessoalmente, acho a versão de 2003 mais bem construída e eficaz na criação de uma atmosfera mais perturbadora.
Conclusão Geral
Os Cinemas NOS Alvaláxia oferecem uma experiência de cinema técnica de alta qualidade como é de esperar da NOS que é referência no mercado, com boas salas e projeção, mas o ambiente impessoal e sombrio do espaço compromete a experiência. A decoração por mais que tente não consegue apagar a estrutura peculiar do espaço. Apesar do cinema parecer ter boa afluência, o local transmite uma sensação estranha, especialmente às 23h, perto da meia-noite, onde o shopping parece deserto e quase ao abandono. A localização no interior de um shopping decadente e a falta de acolhimento do ambiente geral exigem melhorias para tornar a visita mais agradável.
A qualidade cinematográfica está indubitavelmente presente neste cinema, infelizmente os outros 50% que fazem a magia de ir ao cinema, o espaço, o conforto, não são o forte deste complexo.
Avaliação:
5,5/10.










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