A saga Urban Legends (Mitos Urbanos) é composta por três filmes que exploram o terror slasher sob a ótica das lendas urbanas. Cada produção tem a sua própria abordagem e impacto dentro do género.
3. MITOS URBANOS 2 [URBAN LEGENDS - THE FINAL CUT] (2000)
Em terceiro lugar entre os três filmes da franquia, Mitos Urbanos 2 é uma sequela com uma história rasa e pouco envolvente. O aspeto mais interessante do filme é a sua ambientação numa universidade de cinema, um diferencial que poderia ter sido melhor explorado. No entanto, a execução da trama não acompanha essa ideia promissora.
A narrativa centra-se num grupo de alunos que precisa de produzir uma tese em formato de filme para concluir o curso. A protagonista, Amy (Jennifer Morrison), decide criar um thriller baseado em mitos urbanos. Este conceito poderia ter originado um enredo instigante, mas o argumento perde-se em clichês e falta de impacto nas mortes.
Uma das principais falhas do filme está no tom: tenta misturar terror e comédia, mas essa combinação não resulta bem. As partes cómicas, que são mais que nos outros dois filmes, acabam por enfraquecer a tensão. Além disso, as mortes são pouco mostradas e apressadas, com excepção de uma que recebe mais atenção, baseada na retirada de um rim, referência ao primeiro filme. Isto torna o segundo filme menos impactante e reduz o seu potencial dentro do género slasher.
Apesar dos problemas, Amy destaca-se como uma protagonista inteligente e Trevor, o protagonista masculino, também tem bons momentos. No entanto, o filme passa rápido e não é marcante. O assassino, que se revela ser o professor, tem motivações fracas que são reveladas apenas no final. O seu motivo de vingança está relacionado com o pai de Amy, que teria comprometido a sua carreira em Hollywood. Esta reviravolta não é convincente e acaba por parecer forçada.
Outro problema está na tentativa do filme de parecer mais "técnico", com um foco excessivo em conceitos cinematográficos como mise-en-scène e cinéma vérité. Estas referências tornam os diálogos artificiais e retiram tempo de desenvolvimento das personagens e da história. Para um filme que decorre dentro de uma faculdade de cinema, teria sido mais interessante explorar melhor o potencial criativo deste ambiente em vez de apenas utilizar termos do meio.
No aspecto técnico, Mitos Urbanos 2 é bem produzido, o que era esperado dado o seu lançamento nos cinemas e as suas ambições cinematográficas. No entanto, qualidade técnica não é suficiente para compensar uma trama fraca e personagens pouco desenvolvidas. Em resumo, é um filme que entretém, mas que é facilmente esquecível e, na minha opinião, o mais fraco da trilogia.
2. MITOS URBANOS 3 [URBAN LEGENDS 3 - BLOODY MARY] (2005)
Coloco Mitos Urbanos 3: Bloody Mary em segundo lugar na trilogia, apesar de ser, inegavelmente, um filme mais fraco tecnicamente. A sua produção foi feita com outra dimensão e para um meio diferente: home video e televisão. Tal reflete-se na qualidade geral, no entanto, é um ótimo telefilme dentro das suas limitações, ainda que não seja perfeito.
Tenho pena que a lenda da Bloody Mary ainda não tenha tido um filme digno do seu potencial, pois trata-se de uma das lendas urbanas mais assustadoras e com potencial para uma adaptação cinematográfica. Este filme tenta abordá-la, mas não lhe faz total jus. A história centra-se na protagonista, Samantha, e no seu irmão, David, que investigam uma série de mortes e desaparecimentos. Ambos são bons protagonistas e conseguem carregar bem a narrativa.
Uma das principais diferenças deste filme em relação aos anteriores é a sua abordagem mista: há um assassino real e, simultaneamente, um sobrenatural. Isto permitiu uma inovação necessária à saga, pois manter a mesma estrutura dos dois primeiros filmes acabaria por desgastar a fórmula. No entanto, o elemento sobrenatural acaba por ser pouco explorado, e a Bloody Mary tem menos presença do que seria desejável. A saga poderia ter continuado com cada filme a abordar uma lenda diferente, mas infelizmente não seguiu esse caminho.
Apesar de esteticamente mais afastado dos anteriores, o filme ainda mantém algumas referências à série. No primeiro filme, a Bloody Mary é mencionada, e aqui torna-se o foco da história. Também há uma mensagem e uma cena com um cão que remetem ao segundo filme. Estes pequenos detalhes ajudam a lembrar que se trata de uma trilogia conectada.
As cenas de morte variam na sua qualidade e execução, mas pelo menos são mostradas, ao contrário do segundo filme, onde muitas foram apenas sugeridas. A cena das aranhas é arrepiante, apesar dos efeitos algo ultrapassados, continua a ser eficaz e inquietante. A morte no hotel e a eletrocussão estão bem feitas, contribuindo para os momentos de maior tensão do filme.
A revelação do assassino foi impactante q.b., pois, apesar de inesperada, não me surpreendeu. O ponto mais fraco do filme é, sem dúvida, a morte do assassino. Descobrimos que foi ele quem matou Mary quando esta era adolescente, mas os efeitos utilizados nessa cena foram muito mal conseguidos, retirando peso à resolução da história. Fico com pena que o filme tenha encerrado sem uma conclusão mais digna, pois ficamos sem saber ao certo o destino de David. Um final mais fechado teria ajudado a fortalecer o cômputo geral da história.
Apesar das suas falhas, Mitos Urbanos 3: Bloody Mary é um bom filme e provavelmente o melhor até hoje a abordar esta lenda em particular. Outros filmes que tentaram retratá-la foram francamente fracos.
1. MITOS URBANOS [URBAN LEGEND] (1998)
Mitos Urbanos é um ótimo slasher, típico da sua época, no melhor sentido. Apresenta uma história bem construída, mortes criativas e os melhores protagonistas da trilogia, Natalie e Paul. O filme aposta em diversas reviravoltas e momentos de incerteza, mantendo o espectador em dúvida sobre o que realmente está a acontecer e quem é o verdadeiro responsável pelas mortes.
A trama gira em torno de um massacre ocorrido numa universidade e explora a forma como a linha entre realidade e ficção pode ser tão tênue. Mostra como um conto contado e recontado transforma-se com o passar do tempo, tornando-se cada vez mais fantasioso e assustador, dando origem a uma lenda urbana. Essa abordagem é um dos pontos mais interessantes do filme.
Os atores têm um desempenho muito bom, com excelentes interpretações e personagens bem construídas. Tecnicamente, o filme mantém uma atmosfera noturna e misteriosa, que contribui para a imersão do público no suspense. A revelação do assassino é inesperada, bem justificada e conduzida de forma convincente, culminando numa detenção que dá satisfação ao espetador, uma vez que é bem desenvolvida.
O gancho final é intrigante, e fica a pena de o segundo filme não ter tido uma ligação mais direta com este. Embora histórias individuais sejam uma abordagem interessante, pois evitam cansar o público e manter a franquia presa aos mesmos personagens, Mitos Urbanos 2 poderia ter funcionado melhor como uma continuação direta, com uma narrativa mais bem arquitetada.
Não há muito a apontar de negativo, pois o filme cumpre tudo a que se propõe: é um bom slasher, com um mistério bem elaborado, reviravoltas bem doseadas e eventos desenvolvidos no momento certo. Sofre um pouco de um problema comum nos filmes do final dos anos 90 e início dos 2000, que é o uso de arquétipos cliché, como o burro, o engraçado e a amiga falsa. No entanto, mesmo nesse aspeto, não é dos piores exemplos. No geral, é um ótimo filme dentro do seu gênero.




Comentários
Enviar um comentário