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Bilhetes de Cinema em Portugal são feios

 

Um dos bilhetes da minha
coleção "Divertida-mente 2"

Durante anos, ouvi dizer que os bilhetes de cinema eram pequenos tesouros que se guardavam com carinho, uma lembrança física de tardes inesquecíveis, quer fossem passadas sozinhas ou acompanhadas por amigos. Até meados da década de 2000, os bilhetes eram feitos de um papel rígido, quase como os bilhetes de concertos, com uma linha picotada onde eram rasgados à entrada da sala.

Estes bilhetes tinham uma durabilidade impressionante, e a impressão neles resistia ao tempo, mantendo-se clara e intacta por anos. Além disso, havia algo de sofisticado naquele pequeno pedaço de papel – sentíamos que estávamos a segurar algo mais do que um simples comprovativo. Com a chegada dos bilhetes modernos – aqueles talões térmicos que nos entregam hoje –, essa tradição de guardar o bilhete como recordação desapareceu quase por completo. 

Eu já nasci numa era em que esses bilhetes térmicos eram a norma, e desde 2017 comecei a colecioná-los, numa tentativa de preservar um bocadinho dessa magia. Mas, sendo apenas recibos simples, tenho de arranjar formas de os proteger, como fotocopiá-los e plastificá-los. Quando vou ao cinema com alguém, peço-lhes que assinem o bilhete, na esperança de dar um toque mais pessoal a algo que, por si só, não tem qualquer encanto. No entanto, sejamos honestos: os bilhetes modernos são desinteressantes. São grandes demais, sem qualquer cuidado estético, não são de todo uma recordação de uma experiência cultural. Feitos em papel térmico, com uma impressão que se apaga com o tempo, são impressos numa máquina registadora. 

Os bilhetes de cinemas mais independentes, por outro lado, ainda preservam um pouco daquele charme antigo. Feitos num papel de maior qualidade, mais espesso e com um design timbrado, são impressos na gráfica e só depois personalizados na hora da compra. Não seria maravilhoso se todos os bilhetes de cinema tivessem essa mesma atenção ao detalhe? Com isto em mente, há várias formas de devolver aos bilhetes de cinema alguma da dignidade que perderam, e muitas delas nem requerem um grande investimento. Uma opção simples seria apostar na inclusão de arte ou ilustrações temáticas nos bilhetes, mesmo a preto e branco, talvez relacionadas com a época do ano ou até com o próprio cinema. No caso dos Cinemas NOS por exemplo, cada complexo podia ter um "selo", "adesivo" próprio que ficaria impresso no bilhete. Códigos de cores para cada sala ou tipo de sessão também poderiam ser usados para diferenciar os bilhetes de uma forma simples e económica, sala 2 teria o título do filme a azul, sala 3 o título a castanho. 

Outra sugestão seria adicionar pequenas mensagens ou citações de filmes famosos no verso dos bilhetes, ou no fim destes, algo que traria um toque pessoal sem aumentar significativamente os custos de impressão. Seria interessante ver as grandes cadeias a seguir esta tendência, mesmo que em ocasiões especiais. Parcerias com artistas portugueses para criar fundos para os bilhetes, bilhetes artísticos em tiragens limitadas, ou não, que dariam aos clientes algo verdadeiramente único para levar para casa. Isso reforçaria a ideia de que uma ida ao cinema é mais do que apenas ver um filme – é uma experiência cultural. 

Não sou contra a utilização de bilhetes digitais ou apps de bilheteira – aliás, já os utilizei em algumas ocasiões e aprecio a sua conveniência, tenho a app dos Cinemas NOS instalada. A informatização é um caminho inevitável e traz muitas vantagens práticas. No entanto, isso não significa que o bilhete físico deva ser completamente excluído. Acredito que seja possível ter o melhor dos dois mundos: enquanto o bilhete digital oferece rapidez e eficiência, o bilhete físico pode continuar a servir como uma recordação tangível e especial da experiência. A coexistência de ambos os formatos é exequível.

O que aconteceu aos bilhetes de cinema para se tornarem tão banais? Será que voltaremos a ter bilhetes que não só registam a nossa presença, mas que também fazem jus à experiência que vivemos? Não devíamos, enquanto público, exigir algo mais do que um simples talão, mal impresso e despersonalizado? 

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